O Sertanejo é o maior ritmo musical do Brasil, com ele 4 dos 5 artistas mais tocados do Brasil no Spotify são sertanejos, e no top das 5 musicas mais ouvidas no momento no Brasil 4 são sertanejo. E a parada de ritmos mais ouvidos no spotify no top3 está: Sertanejo pop / Sertanejo Universitário / Sertanejo. Então, não há dúvidas, o sertanejo é o ritmo dominante em todas as paradas, isso porque não contabilizamos rádios, tv, e outros meios de comunicação que são predominados pelo sertanejo.
Com os videoclipes mais assistidos do youtube music,
Você também sabia que dos 10 cachês de cantores brasileiros mais altos 9 são sertanejos?
1.Gusttavo Lima - R$ 800 mil a R$ 1 milhão
2. Jorge & Mateus - R$ 500 mil
3. Henrique & Juliano - R$ 500 mil
4. Zé Neto & Cristiano - R$ 400 mil
5. Maiara e Marisa - R$ 300 mil
6. Anitta - R$ 300 mil
7. Luan Santana - R$ 300 mil a 400 mil
8. Wesley Safadão - R$ 350 mil
9. Bruno & Marrone - R$ 300 mil
10. Zé Felipe - R$ 300 mil
11. Leonardo - R$ 280 mil
12. Simone & Simaria - R$ 250 mil
Agora é o momento onde introduzimos a palavra AGRO, você sabia que todos esses dados acima não são por um simples acaso e tudo está atrelado a uma parte que detém maior porcentagem de dinheiro da população Brasileira?
Com referências e dados vamos entender as camadas da construção desse ritmo e em como ele te afeta.
Porque os artistas sertanejos defendem com unhas e dentes politicas de direita, como o fim da lei de incentivo a cultura a lei rouanet, entre outras declaração como a recente dita por Zé Neto da dupla Zé Neto e Cristiano, sobre o fato de se vangloriarem de nunca ter usado dessa lei para se beneficiar do governo ou como ele disse "do povo" mas em seguida revelado os cachês altíssimos pagos por prefeituras em cidades pequenas (menos de 10mil habitantes) sem licitações, ou seja? "com o dinheiro do povo". Hipocrisia?
Porque o Agro negocio passou a investir no mundo da musica?
Bom, a concentração agrária faz parte do Brasil desde que os Portugueses invadiram essas terras, no momento eles só extraiam todas as riquezas que tínhamos, não só nosso ouro, café ou madeira que foram levados, eles impuseram aqui um modelo de país Agroexportador , com mão de obra indígena nativa e com a chegada de escravos trazidos a força de seus países de origem para fazer do nosso país uma grande fazenda para o mundo, ou seja plantando em grande escala, esgotando nossos recursos naturais e exportando a maior parte de toda essa produção para grandes países. Bom, essa concentração de poder que até o momento era algo da realeza, se manteve, mas com a chegada de barões e baronesas querendo fazer do Brasil sua casa, entre outros povos, isso foi se dividindo mas ainda se mantendo nas mãos de uma seleta minoria.
1534 - Capitanias Hereditárias
As capitanias hereditárias foram a primeira divisão administrativa e territorial implantada pelos portugueses durante a colonização da América Portuguesa. Os portugueses chegaram ao Brasil em 1500 e, na década de 1530, implantaram o sistema de capitanias hereditárias como mecanismo de colonização.
1850 - Lei de terras
Lei essa que não tinha como intuito distribuir terras tá, foi ela quem deu fundamento jurídico para que pessoas pobres tenham cada vez menos acesso a terras, e impedia também que futuro ex trabalhadores e escravizados se tornassem donos de terras.
1875 - Colonato
Colonato é o nome que se dá a um sistema de exploração de grandes propriedades entre diversos colonos ou meeiros, que ficam incumbidos de cultivar uma determinada área e entregar parte da produção ao proprietário, conservando outra parte para seu próprio consumo.
E nesse momento mais de 1.600.000 milhões de camponeses pobres da Europa vieram ao Brasil com a promessas de que receberiam terras próprias para plantar, onde obviamente a grande maioria não recebeu essas terras, e foram obrigados a trabalharem nas fazendas em um novo regime servil que foi denominado colonato.
Bom, teríamos que passar horas entendendo essas questão de divisão de terras no Brasil, são muitos marcos, e injustiças a serem considerados.
Mas o que precisamos saber, é que essas oligarquias que sempre tiveram essas terras concentradas em suas mãos governaram o Brasil praticamente até 1930 com a queda da "Republica do café com Leite" e inicio da Era Vargas.
Bom, houve uma crise econômica e isso que deu o fim, a queda da Republica do café com Leite. Então o modelo Agroexportador perde espaço para o modelo Agro desenvolvimentista, e instaura assim a Era Getúlio.
Vocês acreditam que com essa revolução de 1930 houve assim uma redistribuição de terras, talvez uma reforma agrária... NÃO.
Diferente dos Estados Unidos e de outros países da Europa, esse processo não realizou nenhuma reforma agrária, deixando assim que as oligarquias rurais continuassem donas de terras, continuaram latifundiárias, e mais até do que isso, a burguesia industrial fez uma aliança com a oligarquia rural,
Livro - A Questão Agrária no Brasil de João Pedro Stedile
Explica que esse processo aconteceu por 2 motivos. O primeiro porque a burguesia industrial Brasileira né, os empresários brasileiros, tem uma origem na oligarquia rural que começa nas exportações do café e do açúcar, e o segundo motivo é porque o modelo industrial do Brasil era economicamente dependente então naquele momento a indústria Brasileira precisava importar maquinas e operários da Europa e dos Estados Unidos,, e isso era pago como? com a exportação agrícola.
Pela união dessas duas burguesias, a rural e a urbana que surgiu uma indústria vinculada ao latifúndio.
Durante toda a década de 1940 e 1950 os conflitos do campo, por conta de terras etc... se intensificaram, a ponto da reforma agrária ser uma das principais pautas puxadas pela esquerda, e que já tinha uma adesão popular bem grande, e foi esse um dos principais motivos com que fizeram a elite rural apoiar o golpe de 1964 e a ditadura foi um período essencial para o nascimento do Agronegócio no Brasil.
Livro - Agronegócio e Indústria Cultural por Ana Manuela Chã
Nesse livro, vemos que a quantidade bem significativa de dinheiro investido nesse setor (indústria cultural) significou a transformação da agricultura camponesa e acabou prejudicando os demais agricultores, tanto os que produziam em pequena escala que tiveram que competir com insumo químico, maquina, semente modificada, fazendo com que esses camponeses recorressem a financiamento bancário onde muitos quebraram. Os outros também se ferraram nesse negocio foram os empregados que se viram em situações difíceis, já que as maquinas já reduziam o numero de trabalhadores e a maioria dos agricultores sequer sabiam operar essas maquinas.
Além de tudo isso, as rádios, e a televisão ajudaram a fomentar durante toda a década de 60 e 70 a ideia de que o campo era um lugar arcaico, que deveria ser superado, que a cidade, as capitais estavam ali oferecendo rios de oportunidades, várias chances de trabalho, e nessa época boa parte das pessoas do campo migraram para as cidades, sendo assim o auge do:
EXODO RURAL.
1990 X 2000
Décadas mais importantes, porque foi nesse momento onde o agronegócio se consolidou, momento onde houve o maior investimento de marketing para a construção do novo ideal tipo do que é o campo brasileiro.
REALIDADES: Para o agronegócio existir, é necessário uma intensa destruição ambiental, expropriação de terras não só de camponeses mas de indígenas e é com isso que vemos até hoje, grande parte de nossa maior reserva ecológica (floresta Amazônica) sendo destruída para o cultivo de pastos. Dependência econômica dos países e o uso de venenos/agrotóxicos. Mas óbvio que eles não querem que tudo isso seja de conhecimento popular, assim dando inicio no grande investimento na criação positiva da imagem do agronegócio:
Agronegócio pop, tech, que ele é fundamental para o país, que ele salva a economia, que representa o progresso do campo, que o campo hoje é moderno, dominado por maquinas (essa explicação precisava ser intendida por todos, já que a grande maioria de nós fizemos parte do momento de escravidão) a imagem de que o agronegócio é que coloca a comida no prato dos brasileiros, e até mesmo que o VENENO que nos alimentos ajudaria a acabar com a fome foi dito.
A ideia era substituir a imagem da "roça" pelas plantações de monocultura, os "roceiros" pelos "agro boys", familias unidas no campo em uma paisagem perfeita no campo com o sol no fundo, e foi e é esse o ideal que o agronegócio quer construir. Tudo isso foi com um investimento massivo, bruto em comerciais, novelas, rádios, músicas, programas de tv e até em emissoras.
A musica sertaneja surgiu no final de 1940 e era a expressão da população rural, que falava sobre como era ser caipira no Brasil dos amores, de como era o dia a dia no campo, com a evolução do gênero foi surgindo artistas mais "pop"... na década de 80 e 90 a indústria cultural começou um movimento de enfraquecer a música caipira, começaram a retratar ela como algo do passado, algo nostálgico que não refletia a vida no campo, enquanto isso era fomentada e amplamente difundido duplas sertanejas e artistas com essa pegada mais pop como Leandro e Leonardo, Chitãozinho e Chororó, Milionário e José Rico começaram a surgir por todo o país. Bom, o negocio funcionava assim, quanto menos ligada a vida no campo, quão mais afastada é a música do cotidiano rural, mais investimento era colocado. Até que apenas essas músicas e artistas que propagassem esse tipo de conteúdo passaram a ter e dominar espaço na mídia.
Quatro frentes essenciais para esse processo:
- Jabá (programas de rádio passaram a receber dinheiro para tocar músicas desses "artistas". e isso veio aliado a compra de rádios por latifundiários.
- Agroshows, promovido por latifundiários e quase sempre bancados com dinheiro público das prefeituras do interior nas chamadas "Festas do Pião". No livro da Manuela Chã citado acima mostra como o as principais empresas do agronegócio conseguiram fazer projetos culturais com dinheiro da Lei Rouanet no valor de 130 MILHÕES.
- Feiras Pecuárias, que promovem shows, vaquejada, apresentação dos sertanejos com presença vip de vários famosos como chamariz e nelas realizam palestras, conferências, leilões de animais. Obviamente que o estado também ajuda no financiamento .
Dados da PRONAF em 2014 apontam que foram repassados naquele ano 24,1 BILHÕES para a agricultura familiar através do Plano Safra, e o que é ainda mais chocante (na minha opinião) para o Agronegócio foram repassados, 156BILHÕES para financiamentos rurais no Plano Agrícola, e pecuário do Agronegócio.
Bom, enquanto o PRONAF consagra o maior universo de produtores, que seria a agricultura familiar e recebeu um valor significantemente menor que o do agronegócio.
Há, mas esses artistas não tem culpa da corrupção que acontece, já é algo muito bem entendido entre eles, não há inocentes nesse meio, todos sabem e procuram entrar nesta mesma mamata chamado agronegócio.
Esse post tem como base e inspiração o vídeo da Laura Sabino