Consciência negra : expressões popularmente usadas até hoje, mas que são do período da escravidão.

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20 de novembro

Post atrasado por motivos de: em todo feriado negro eu busco aprender algo, assistir um documentário, ler um livro, enfim, foram 7 dias depois que descobri uma cartilha com o conteúdo que venho trazer nesse post de hoje!

Não só conhecido como dia da consciência negra, mas também e talvez principalmente dia nacional de Zumbi, data que marca a morte de Zumbi dos Palmares na luta pelo fim da escravidão no nordeste, a celebração é a importante porque a nossa sociedade que sucedeu esse o movimento escravagista foi uma sociedade afro-brasileira como eu faço parte, você possivelmente também. Então é importante rever seus conceitos, e buscar suas raízes, a data está ai para além das informações que ela traz, é importante que nela você procure informações sobre você, sua historia, suas raízes.


"Da cor do pecado"


A cartilha da Defensoria Pública da Bahia explica que a expressão "da cor do pecado", muitas vezes usada como "elogio" por pessoas brancas, carrega a cultura racista de "hipersexualização dos corpos negros, estigmatizados no período colonial, quando os 'senhores' violentavam sexualmente mulheres negras e encaravam isso como um momento de diversão".


"A dar com pau"


A expressão "dar com pau", usada hoje em dia para expressar "abundância" ou "grande quantidade", também remete à violência da escravidão.

"Expressão originada nos navios negreiros. Muitos dos capturados preferiam morrer a serem escravizados e faziam greve de fome na travessia entre o continente africano e o Brasil. Para obrigá-los a se alimentar, um 'pau de comer' foi criado para jogar angú, sopa e outros alimentos pela boca", diz o dicionário da Defensoria Pública da Bahia.

Por isso, a publicação sugere que, em vez de dizer, por exemplo: "tinha gente a dar com pau", as pessoas digam "tinha muita gente" ou "bastante gente".

Outra variação da expressão com origem na escravidão, também muito usada hoje em dia, é: "nem a pau". Nesse caso, ela pode ser substituída por: "de jeito nenhum".


"Nas coxas"


A expressão "nas coxas" costuma ser usada para se referir a algo malfeito. E uma antiga interpretação reforçada pela cartilha da Defensoria Pública da Bahia é de que ela tem origem na "época da escravidão brasileira, quando as telhas eram feitas de argila, moldadas nas coxas de pessoas escravizadas. Como tamanho e formato variavam, a expressão remete a algo mal feito".

Mas essa teoria foi colocada em xeque. O arquiteto restaurador José La Pastina Filho, superintendente regional do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico (Iphan), relata, em artigo de 2006, que essa ideia é inconsistente com "as medidas da coxa de um homem de 1,80 m de altura" que fosse usada como um molde para telhas.

"Sem maiores preocupações com aspectos de anatomia humana, se estabelecermos uma simples regra de três, poderemos verificar que, para fabricar uma telha de 77cm, precisaríamos contar com um escravo (a) de 3,85m de altura", argumenta Pastina.

Novamente, independentemente de qual seja a origem da expressão, ela acabou associando o trabalho negro a coisas malfeitas, pondera Maristela Gripp.


"Denegrir"


Essa palavra, usada para dizer que alguém está "manchando" a imagem ou reputação de alguém, vem do latim denigrāre, que significa "enegrecer".

"Possui na raiz o significado de 'tornar negro'. Utilizado como sinônimo de difamar ou caluniar, reforça, mais uma vez, ser negro como negativo, ofensivo", diz o "dicionário" da Defensoria Pública da Bahia.


"Meia Tigela"


Assim como "nas coxas", meia tigela é expressão usada frequentemente para se referir a algo medíocre ou mal feito. Mais uma vez, há quem argumente que o termo tem origem na escravidão.

"Os negros que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre conseguiam alcançar suas metas. Quando isso acontecia, recebiam como punição apenas metade da tigela de comida e ganhavam o apelido de 'meia tigela', que hoje significa algo sem valor e medíocre", diz o dicionário de Expressões Racistas do Cotidiano.

Mas existe a possibilidade de que o termo tivesse um uso mais amplo, não relacionado aos escravos. O grande dicionário Houaiss aponta que, no livro A Casa de Mãe Joana, o autor Reinaldo Pimenta (uma obra que discute a origem de palavras e expressões da língua) dizia que "criados, oficiais etc que não moravam no palácio real eram alimentados 'com as rações prescritas da Cozinha Del Rei e a porção de cada um variava conforme a importância do serviço prestado. E assim havia gente de tigela inteira e gente de meia tigela".


"Macumba"


A palavra originalmente era usada como nome de um instrumento de percussão de origem africana, semelhante a um instrumento de reco-reco, diz a cartilha.

Mas, no Brasil, passou a ser utilizada de maneira pejorativa para se referir às oferendas a orixás nas religiões de matriz africana. A defensoria destaca que cada religião de matriz africana tem nome próprio para se referir a oferendas e sugere que os termos corretos sejam adotados no cotidiano, sem atribuir conotação negativa a um rito que deve ser respeitado como parte de uma religião.

Segundo a cartilha, no candomblé e na umbanda, fala-se em "ebó" ou "despacho" para tratar de oferendas a orixás ou entidades espirituais. "Vamos deixar de estereotipar religiões de matriz africana e cada um seguir com sua fé", sugere a publicação da defensoria.


"Mulato/a"


A cartilha destaca que o termo "mulato", na língua espanhola, se referia ao filhote macho do cruzamento do cavalo com a jumenta ou da égua com o jumento- o que em português chamamos de mula.

O termo, que define o animal mestiço, passou a ser usado, segundo o dicionário Houaiss, a partir do século 16 como analogia para se referir a filhos de mãe branca e pai negro ou vice-versa. Ou seja, compara-se um animal mestiço com um ser humano que descende de brancos e negros.

No entanto, existe outra teoria a respeito da etimologia do termo, descrita por exemplo no livro do pesquisador americano Jack D Forbes, que sugere que a palavra mulato veio, na verdade, da palavra árabe "muwallad", usada (muito antes da escravidão colonial europeia) para descrever "árabes estrangeirizados", ou seja, de origem étnica mista.

Isso, segundo essa teoria, teria sido incorporado pelas línguas portuguesa e espanhola e passado a descrever pessoas de origem mista, como explicou Forbes no livro Africans and Native Americans.

Para além da origem etimológica, no entanto, alguns ativistas e especialistas em linguagem argumentam que a palavra acabou ganhando conotação racista em seu uso cotidiano - fosse para diferenciar negros pela gradação de sua cor da pele, fosse para hipersexualizar mulheres negras.

"A enorme carga pejorativa é ainda maior quando se diz 'mulata tipo exportação', reiterando a visão racista do corpo da mulher negra como mercadoria", diz o dicionário de Expressões Racistas do Cotidiano.

É mais um caso de palavra que, independentemente de sua origem, passou a ser associada ao racismo, diz a professora Maristela Gripp. "Não haveria nenhum problema com a palavra se não vivêssemos em um contexto racista. Ela passou a ser empregada com um sentido pejorativo", argumenta.


"Escravo"


Uma discussão cada vez mais em voga diz respeito ao uso da palavra escravizado no lugar de "escravo", para se referir aos africanos trazidos à força ao Brasil durante a colonização portuguesa.

O dicionário da Defensoria Pública da Bahia explica qual o argumento por trás disso: "Usar a palavra 'escravo' sugere que seja uma característica e condição inerente à pessoa, sendo que foi algo imposto ao povo africano, que foi sequestrado e torturado pela escravidão. A palavra sugere desumanização, esquecendo a história e o legado desses povos para a história mundial."

Apesar dessas expressões nem sempre serem usadas com a "intenção" de ofender ou discriminar, a publicação da defensoria sugere que as pessoas voluntariamente abram mão delas, porque elas reforçam uma cultura de subjugar, sexualizar e inferiorizar os negros.

"O racismo se revela de diversas formas em nossa sociedade. Estas microagressões, além de reproduzirem um discurso racista, ao identificarem a negritude como marcador de inferioridade social, afetam o bem estar de pessoas negras", diz a Defensoria Pública da Bahia.


"Criado-mudo"


A origem do termo criado-mudo é alvo de diferentes teorias, e muitas iniciativas tentam incluí-lo na lista de expressões que deveriam ser abolidas.

Essas iniciativas partem da teoria de que o termo faz referência "aos criados, geralmente pessoas escravizadas, que deveriam segurar objetos para seus senhores e eram proibidos de falar".

Por causa disso, o dicionário da Defensoria Pública recomenda que a palavra "criado-mudo" seja substituída no dia a dia das pessoas por "mesa de cabeceira".

No entanto, quem questiona essa teoria argumenta que o termo "criado" não era usado, na época, para descrever escravos (e sim pessoas criadas dentro de uma determinada família, por exemplo adotadas) e que a expressão criado-mudo provavelmente é mais antiga, sendo derivada do inglês "dumbwaiter".

O dicionário Oxford define "dumbwaiter" (literalmente, 'servente burro') tanto como um elevador de transporte de refeições em restaurantes ou residências privadas quanto como "uma mesa auxiliar" de serviço.

A Associação Histórica da Casa Branca descreve como Thomas Jefferson (um dos fundadores dos EUA e autor da Declaração de Independência americana) dispunha desses "dumbwaiters" em cerimônias informais na sede do governo americano, para acomodar comida e talheres que eram oferecidos aos convidados.

"Os serventes traziam a comida quente, mas não permaneciam no aposento durante a refeição. A conversa fluía livremente, sem a possibilidade de que trabalhadores pudessem ouvir informações sensíveis e repeti-las fora da Casa Branca", diz a associação, citando como referência o livro The President's House, de William Seale.

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